Reflexões sobre o sistema carcerário brasileiro
Por Harlem Carvalho e Yuri Carvalho
CRIME E CASTIGO
O CONSERVADORISMO, que não deve ser confundido com reacionarismo, parte da premissa da existência IMPERFEIÇÃO HUMANA, enquanto a IDEOLOGIA MARXISTA apregoa que o homem nasce puro e adquire imperfeições impostas a ele pelo capitalismo. Desta forma o nascimento do NOVO HOMEM seria possível numa sociedade socialista-comunista asséptica e igualitária. Por este princípio, então o recrudescimento da criminalidade no Brasil nos últimos 12 anos de governo esquerdista, que se vangloria de ter emancipado milhões de pobres, passa a ser um paradoxo desconcertante.
Nos últimos dias a discussão sobre crime, castigo, reabilitação e direitos humanos dos delinquentes voltou com toda força após o latrocínio que vitimou o exemplar médico e Professor Jaime Gold, ocorrido na lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro em 20/05/15. Iniciou-se a partir desta tragédia um debate acalorado sobre REDUÇÃO DA MAIORIDADE, algo que teria forte efeito simbólico, mas que não seria o xis da questão. Na verdade é o ENDURECIMENTO DAS PENAS, a AGILIZAÇÃO DO PROCESSO PENAL - com redução da possibilidade de interposição de recursos - mais a REFORMA DO SISTEMA PRISIONAL que têm a abrangência real para combater a licenciosa IMPUNIDADE no País. Este clamor da população acuada pela escalada da violência esbarra no ESTABILISHMENT ESQUERDISTA DA REABILITAÇÃO, incensado na grande mídia e amparado em núcleos de interesse jurássicos no meio acadêmico. A dissonância fica evidente quando se analisa pesquisas de opinião como a do DATAFOLHA, divulgada em 15/04/15, na qual 87% da população se mostrou favor da redução da maioridade penal. Num inquérito do Telelistas em 2013, 65% dos entrevistados se mostrou simultaneamente a favor da pena de morte e prisão perpétua.
Vem de Foucault (1926 - 1984), filósofo festejado pela esquerda, uma das primeiras figuras públicas francesas a morrer pela SIDA - HIV, autor do livro "Vigiar e punir", uma das bases conceituais para o discurso "politicamente correto", mas deletério, de abrandamento das penas e a ressocialização [1]. À medida que a criminalidade galopa na América Latina dominada pelo Foro de São Paulo, confirma-se na prática a falência de suas idéias. O que se pode aproveitar daquilo que escreveu sobre este relevante tema, é o sentido da punição que, para além de equiparar os atos, teria um efeito social pedagógico, ao fazer o delinqüente pagar um preço pouco maior que a recompensa por seu delito. Seria um modo de educar a sociedade, deixando evidente que os seus acordos e contratos deveriam ser cumpridos, preservando seu funcionamento [1]. O tecido social permaneceria de pé apesar da desordem causada pelo criminoso, vencendo a coletividade e não o infrator.
John Locke, uma das mais respeitadas fontes da Filosofia moderna, ainda no século XVII, teorizou que o Governo, por pacto firmado entre os homens, concentraria o direito de julgar e castigar criminosos, de modo a assegurar a toda comunidade a segurança e a paz [2]. Mas é outro filósofo francês, que em seu tempo tornou-se autoridade no estudo de sistemas prisionais, quem deveria servir de exemplo para ajudar combater o caos cada vez pior nas cadeias brasileiras, o que por si já teria grande impacto no cenário de barbárie que o País atravessa. Tocqueville (1805 - 1859), ardente defensor da liberdade e democracia, autor de "A democracia na América", escreveu também sobre o até hoje eficaz sistema norte-americano ("Du système pénitentiaire aux États-Units et de son application en France -1833). Esta obra foi premiada pela Académie des Sciences morales et politiques, aplaudida e traduzida em muitos países. Aquele relatório, inicialmente despretensioso, passou a ser referência constante nas discussões de projetos e reformas de sistemas penitenciários de toda Europa Ocidental, que hoje conta com as melhores estatísticas de delitos e cárcere [3].
A população anseia sim por um modo eficiente de punição e regeneração moral dos criminosos. Esta justa demanda precisa ficar clara aos agentes políticos da esquerda ora de plantão no poder, que certamente faltaram às importantes aulas de História do século XX e também cabularam na disciplina de Filosofia. A única preocupação destes é delimitar seu quinhão de votos, afrontando ao bom senso com um discurso igualitarista demagógico, não importando o que seja certo ou errado ou a vida dos pagadores de impostos.
REFERENCIAS:
1. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir.
2. ABRÃO, Bernadete Siqueira. História da Filosofia - Coleção Os Pensadores, ed. Nova Cultural, 1999.
3. TOCQUEVILLE, Alexis; BEAUMONT. Sobre o Sistema Penitenciário nos Estados Unidos e Sua Aplicação na França. Série Ciências Sociais na Administração, FGV. Disponível em http://eaesp.fgvsp.br/sites/eaesp.fgvsp.br/files/arquivos/tocqueville-beaumont_sobre_o_sistema_penitenciario_nos_estados_unidos.pdf
*Demais referências citadas diretamente no texto.
Direita ao ponto
Esse blog tem como norte, a idéia de discutir temas diversos, entre eles: moral, religião, economia, política, humor etc. Tudo isso tendo como base os princípios conservadores, que ao meu julgo, são princípios úteis e bons para a humanidade.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
domingo, 12 de outubro de 2014
Introdução ao neoliberalismo I
INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO (IED)
NO BRASIL – ANÁLISE DE CONJUNTURA
Por Yuri Freire de Carvalho Espírito Santo
Por investimento
estrangeiro entende-se a forma de relação de câmbio (trocas) e mercadológicas
nas quais empresas não “autóctones” ou alóctones alocam investimentos no país
mantendo trocas de recursos e lucros entre a sede (matriz) e a sua filial. Ou
seja, é um investimento feito por um país em uma empresa estrangeira com fins
de adquirir um interesse duradouro para a nação1. Nessa relação de
troca, a empresa busca novos mercados e fontes de lucro, e o país retornos
decorrentes da instalação da empresa no seu território (serviços, conhecimento,
tecnologia, etc).
Nas últimas décadas,
especificamente a partir da década de 90, o Brasil vem sendo cada vez mais
procurado por esse tipo de investimento. Muitas análises chegam a pontos
comuns, atribuindo, dentre outros motivos, o fato de o Brasil se encontrar na
condição de país emergente (dentre os quais destacam-se os BRICs2) –
e por isso mesmo com um imenso potencial mercado consumidor, além de buscar
atrativos para o seu parque industrial interno bem como o aumento da oferta de
serviços necessários para inclusão desse mercado -, a capacidade de
estabilização dos níveis inflacionários através do Plano Real, estímulo à
economia e utilização de câmbio flutuante sujeito à intervenções do Banco
Central e por último, devido a capacidade brasileira de atuar na consolidação,
formação e liderança de um bloco (Mercosul) que gera um grupo de países que se
estabilizam mutuamente, diminuindo os riscos dos investimentos e possíveis
crises.3,4
Outro aspecto importante,
não explícito, a priori, pelos analistas da conjuntura que permitiu tais
investimentos, é o fato de o Brasil possuir um imenso potencial energético e
recursos naturais. Esses elementos atraem empresas que buscam consolidação no
desenvolvimento de novas fontes de energia, bem como empresas que se interessam
na busca de matéria-prima para utilização na indústria pesada e tecnologia
científica (ciências aeroespaciais, náuticas, biotecnologia, etc).
Diante da entrada massiva
do capital estrangeiro sob forma de investimento direto no país, temos efeitos
diretos visíveis que vão desde imediato até longo prazo, como a ampliação de
oferta de serviços (muito antes não disponíveis no país, como internet banda
larga e telefonia móvel), aumento do emprego direto e indireto, desenvolvimento
regional (que busca oferecer outros serviços e produtos para alocar o
trabalhador e população na região da empresa) e estímulo ao mercado interno.
Dentre os aspectos
negativos incluem-se a exploração de recursos locais por parte de estrangeiros,
de modo a fragmentar a soberania nacional sobre os seus recursos naturais, a
vazão de dinheiro e recursos advindos do lucro para fora do país que sempre irá
para o país sede, entrada massiva de produtos estrangeiros e moeda estrangeira
desvalorizando a moeda local e influência (muitas vezes ingerência) de
elementos políticos estrangeiros na política nacional, o que pode muitas vezes contrariar
interesses locais.4
REFERÊNCIAS
1. Foreign Direct Investment, Conferência das Nações Unidas para
Comércio e Desenvolvimento. Disponível em:
pt.wikipedia.org/wiki/Investimento_estrangeiro_direto
2. Http://www.onu.org.br/onu-destaca-aumento-do-investimento-estrangeiro-entre-brasil-russia-india-china-e-africa-do-sul/
3. O.C João Guilherme; A.F. Elaine. O Impacto do Investimento Direto Estrangeiro no Crescimento
da Economia Brasileira. Rev. Planejamento e Políticas Públicas, n 41, dez 2013.
Disponível em: http://www.ipea.gov.br/ppp/index.php/PPP/article/viewFile/249/311
4. Investimentos Estrangeiros no Brasil. Aula No 13, UVB. Análise da
Conjuntura Econômica Nacional. Faculdade OnLine UVB. Disponível
em: http://arquivos.unama.br/nead/gol/gol_adm_6mod/analise_conjuntura_nacional/pdf/aula13.pdf
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
A CULTURA NEGRA NA IDENTIDADE NACIONAL, O RACISMO E A DESONESTIDADE DO MOVIMENTO
Por Yuri Freire de Carvalho
A visão sobre contribuição da cultura
africana, negra, no Brasil, é fundamental se queremos entender a formação do
povo brasileiro. Não se pode criar uma identidade nacional amputando um membro
tão importante do organismo complexo que forma esse país.
E não falo apenas da capoeira, do
samba, do dendê, do caxixi, do frevo, do folclore, do maracatu e do feijão
preparado à moda brasileira (a deliciosa feijoada). Falo também dos negros que
lutaram na independência da Bahia com o batalhão de pretos e pardos forros,
recrutados por Labatut para lutar ao lado das tropas baianas, episódio que
culminou em campanhas de libertação de negros por parte de vários senhores já
em 1823 quando nem se falava em fim da escravidão. Nesse episódio, os negros
foram relatados em diversas ocasiões como homens de bravura e de grande valia
na luta pela independência. Lutavam lado a lado com brancos¹
O que falar ainda da Revolta da
Chibata e o Almirante Negro, João Cândido, que lutou pela melhoria do serviço
militar e pelo fim dos castigos aplicados, episódio fundamental e ímpar na
história da República?². Infelizmente, manipulado mais tarde pelos comunistas,
viria a gerar uma insubordinação contra a hierarquia e contra os oficiais das
forças armadas do Brasil³.
Não poderia deixar de citar
Machado de Assis, negro, nascido de família pobre, conquistou a riqueza e o
reconhecimento já em vida pelos próprios méritos. Não há como querer entender a
identidade cultural e literária brasileira sem se arvorar no mundo machadiano.
Quem quer compreender como se
configura a arte brasileira (seja popular, seja erudita), não pode negar a arte
moderna. Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Tarsila do
Amaral, todos trouxeram à tona as suas influências da arte negra e como ela
influenciou no fauvismo, cubismo, até mesmo realismo e expressionismo⁴. Tudo
isso fez retratar a influência negra na cultura.
Nos tempos de hoje, temos exemplos
de Pelé, admirado no esporte, Heraldo Pereira, no jornalismo e até Joaquim
Barbosa, ocupando o mais alto grau do judiciário brasileiro. Enfim, poderia redigir
o texto inteiro demonstrando por “a mais b” o quanto a identidade negra é a
identidade brasileira. Os exemplos pululam. A simbiose é tal que não existe
mais processo de separação. Falar em Brasil é falar em multicultura e entre elas,
com imensa participação, a negra. Ser brasileiro é ser negro em uma grande
parte, quem quer que seja.
É engraçado, para não dizer
ridículo, que mesmo depois de tantos exemplos, e até mesmo da autoafirmação por
parte dos próprios afrodescendentes, o movimento negro insistir em tratar a
história do país retratando os seus representados como alguém de fora. Quase
sempre o movimento negro trata os negros como um povo que fora trazido ao
Brasil e aqui destituído de toda a sua identidade. Aqui no país o negro é
retratado pelo movimento como alguém aviltado, que não faz parte da construção,
mas como alguém usado na construção. São postos em condição de meros espectadores, “vitimizados”,
um povo a quem se deve uma indenização, justamente por nunca terem sido parte da
história. Os militantes querem colocar os negros em uma posição “de fora” e que
por todos esses anos "off" agora precisa ser colocado “de dentro” à todo custo.
Como antes nunca foi protagonista, precisa ser reparado e agora deve ter a
chance de protagonizar. Nada mais esdrúxulo, injusto, mentiroso e perverso.
O que acontece é sui generis. Se o assunto é valorizar o
negro, ai o movimento é rápido em citar essas e mais contribuições negras para
o país. Mas já que a retórica passou, porque não “tirar uma lasquinha”? Sendo
assim, para justificar todo tipo de privilégio, em instantes esquece-se toda a
contribuição sócio-cultural e mais rápido que a luz, o negro, que fizera tanta
coisa, agora não fez nada. Quando se quer obter privilégios, nada disso conta,
conta mesmo é o quanto ele foi vitimado, esquecido e deixado de fora da
história. É ai que entra a paranóia de perseguição racista, a criação de um
clima hostil, uma luta eterna contra um inimigo que nunca existiu, mas precisa
existir. É nesse momento que se propagandeia a falsa idéia de um Estado
racista, de supremacia branca, elitista e excludente.
Nesse momento, justifica-se
criação de cotas, blocos de carnaval exclusivamente “afro”, medidas de reparo e
afirmativas (termo muito estranho e desafiador), observatório policial e leis
penais especiais para tratar crime de racismo. Nesse momento, em um piscar de
olhos, o negro não fez nada senão apanhar e agora merece bater um pouquinho.
Nunca participou como peça chave no país e agora é a sua vez.
A luta pela concessão de
privilégios é injusta pelo simples fato de pedir privilégios. Mais ainda quando
esse pedido é injustificado já que o personagem a quem se quer reparar,
participou tanto quanto os outros do processo. A contribuição negra é tão
importante quanto a branca. A criação de blocos opostos, antagônicos nada mais
é do que um discurso artificial que cria grupos artificiais. Não existe alguém
puramente branco e nem puramente negro nesse Brasil. Se existe algo a ser pago
a alguém, seria estranho pedir para minha metade credora que pague a minha
parte devedora. Seria como retirar dinheiro da minha conta para depositar na
minha outra conta.
Essa quimera social artificial cria
algo bizarro. Faz toda a nação ter uma dívida consigo mesma. O preto e o branco
se imiscuíram tanto na herança brasileira que qualquer tentativa de agrupar alguém
em um grupo homogêneo é um tiro longe do alvo e uma atitude desonesta. Eu falo,
escrevo, leio, brinco e danço como negro e como branco. Como europeu e como
africano. Mas artificialmente fomentado pela esquerda (grande parte de herança
marxista), de repente, eu danço como branco, luto como branco, bato como
branco, escravizo como branco, estudo como branco e sou racista. Não há nada em
mim que possa lembrar ou sugerir a herança negra, a participação negra. Claro
que tal criação só pode resultar em aumento do racismo, da discriminação e o
antagonismo, e por lógica o clima de tensão.
De repente não olho para o meu
vizinho como igual, porque vejo nele alguém do outro grupo, alguém que luta do
outro lado, uma pessoa que no mínimo está pronta para atirar, porque acredita
piamente que boa parte dos seus problemas existe graças a mim e aos meus
antepassados (que ironicamente são os mesmos dele). De repente meu colega de
trabalho acredita que seu insucesso e sua não promoção se devem aquela exclusão
histórica, o apartheid criado pelos "do meu grupo". E agora ele precisa lutar
contra isso.
Querer leis especiais, cotas, e outros
privilégios porque negro, é a mesma idéia de querer obter privilégios e
heranças pelo nascimento. A mesma herança aristocrática que se quer combater,
se quer obter. Da mesma forma que é feio alguém ter acessos porque carrega
consigo um sobrenome, é feio alguém ter acessos porque exibe um fenótipo. No
final das contas deixa de ser uma luta por emancipação e passa a ser uma luta
pela substituição de privilégios. Fazer trocar de mão a fidalguia. Fazer trocar
de mão a oligarquia. Só muda a justificativa.
Existem duas formas de contar a
história de um povo. Uma é a forma João Ubaldo Ribeiro em “Viva o Povo
Brasileiro” ou ainda os vários autores negros em “Caderno dos Negros”, e a
outra forma é a forma Tolkien em “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”.
Em João Ubaldo, o povo brasileiro
e sua identidade, são construídos em cima de uma angústia. Por mais que se
consiga traçar um perfil brasileiro na obra, o livro no fim das contas, retrata
a identidade do povo como uma alma que percorre grandes episódios da história
brasileira com participação popular, sempre encarnando em um personagem do
povo, sempre desencarnando após derrotas e frustrações. Na obra, o povo
brasileiro não se constrói a si mesmo, é uma eterna alma em busca do corpo
(identidade) a encarnar definitivamente. Nesse sentido é sempre algo fora da
história (alma) tentando entrar na história e se achar em meio aquele
emaranhado de fatos. Em “Viva o Povo...” não existe uma identidade, existe uma
frustração. A identidade brasileira sempre é desfeita por meio do assassinato,
da mentira, e da devassidão. Os personagens concretos e de identidade perene
(podemos citar assim),são sempre pessoas asquerosas, brancos oportunistas,
senhores de escravos que estupram seus escravos e se masturbam na janela. O
povo sempre é vitimado. Exalta-se o povo enquanto mostra sua participação, ao
passo que não deixa esse mesmo povo ser a identidade nacional. A identidade
sempre é uma alma vagante, sem forma definidada, no Brasil que ainda não
encontrou o Brasil onde encarnar definitivamente.⁵
Em “O Hobbit”, Tolkien conta a
história de um povo pequeno, frágil e feliz que vive no Condado. A identidade
do povo do condado é perfeitamente definida e clara: é um povo que canta sua
história simples, sem grandes heroísmos, e sem nenhuma participação nos grande
eventos da Terra Média. Então resta ao Hobbit cantar sua culinária, sua dança,
suas múltiplas refeições, sua admiração pelos grandes heróis e pelos fogos de
artifício. Entretanto a reviravolta acontece em Tolkien. Esse mesmo povo
simples e frágil, que até então não seria capaz de grandes feitos, passa a ser
protagonista. Um jovem hobbit tem a missão mais importante da história da Terra
Média: portar o anel e destruí-lo. Claro que o Jovem Frodo não conseguiria sem
os grandes guerreiros, mas quem está com ele em todos os momentos é o frágil
amigo Sam Wise. E durante toda a história eles são escravizados, mas sem perder
a altivez e a honra, sem separar os valores da amizade e lealdade, são capazes
de grandes atos heróicos. E mesmo não sendo apenas virtuosos (a ganância
aparece entre os hobbits também, e em parte da história eles também são capazes
de escravizar outrem – Gollum) eles entram para a história mostrando o quanto
os pequenos podem alcançar coisas grandes.⁶
No primeiro exemplo, de Ubaldo,
um grande povo é capaz de grandes atos, não sustenta uma história digna. Em
Tolkien, um pequeno povo, é capaz de grandes atos e sustenta toda uma história.
Naquele, existem raças beligerantes onde quem perde é o povo, a identidade.
Neste existem raças beligerantes, onde quem ganha é o bem e o mundo todo, existe
aliança entre os povos e as identidades são preservadas sem prejuízo de
nenhuma. Uma visão é singela e humildemente linda, digna de honra, a outra é
obscura e dantesca, não existe nada e nem ninguém a ser exaltado. Em Ubaldo, a
gente sai com asco, odiando um grupo e sem pesar do outro. Em Tolkien a gente
sai esperançoso, altivo e acreditando no mais fraco.
Incrivelmente a maioria do povo
brasileiro que conheço se enquadra no perfil hobbit e não Alferes Brandão
Galvão. Deixo o exemplo (com toda licença) de uma amiga, Isis. Negra, de classe
média baixa, nunca fui recebido em seu lar (abençoado com muitos filhos e
casamento) de outra forma que não fosse com sorrisos, bom tratamento, abraço e
histórias bacanas. Trata-se de uma família humilde e batalhadora, de gente
decente, que nunca pediu privilégios por serem negros. Pelo contrário, batalham
dia a dia, e conseguiram fazer do seu filho,meu amigo, Luis Henrique um campeão
nacional de Judô e também sul-americano. São pessoas felizes, cristãs e que tem
algo de bom a dar a quem ali chega. Em nada se parece com o povo árido de “Viva
o Povo”. São muito mais parecidos com hobbits do que com o povo de Pirajá. Não
há recalque naquela família, não há ódio e nem pedidos de privilégios. Existe
identidade.
O que a militância negra faz me
lembra, de certa forma Dom Quixote. De tanto ler sobre cavalaria e trovadorismo,
enlouqueceu. Sancho Pança seu fiel amigo, é um realista, inveterado, mas que
mesmo sendo assim, cede aos devaneios quixoteanos e aventura-se com seu amigo
louco. Ou seja, mesmos sabendo das loucuras do amigo, e não vendo correspondência
entre dragões e moinhos de vento, ainda sim, cede as alucinações e vai em
jornada. Não com objetivo de mudá-lo mas segue-o mesmo, na esperança de viver
aquilo que vive o seu amigo. Entrega ao louco a autoridade de ler a realidade.⁷
Assim é a militância e o povo. A
militância é Dom Quixote: de tanto ler Marx, se deixa vencer pelo anacronismo e
ainda acredita no mundo como era no passado. De tanto ler Marx, enlouquece. E o
povo é como Sancho Pança. Simples, realista e pitoresco, não tendo outra opção
se deixa ser liderado por loucos. O povo
vive junto e experimenta a cultura negra. Tem amigos negros, saem com negros,
namoram com negros e mesmo assim acreditam na loucura esquerdista que diz que o
negro vive em pleno regime de exclusão. Para o movimento negro inclusão
representa ter acesso a tudo aquilo que eles dizem odiar enquanto esquerda:
cargos de chefia, renda de burguês, acesso à escola e saúde pagos. Ou seja,
estar incluído significa meramente os valores materiais e objetivos, nada de
imaterial e imanente, como cultura, fé, identidade, respeito e honra. O que
querem mesmo são privilégios, viverem como gente de pedigree. E para tal, vale
tudo, inclusive se associar ao partido e à todo tipo de gente que prega
inclusive, escravidão, intolerância e racismo, como o partido comunista.
Para o movimento negro, todo
negro nasce com uma pauta política a seguir. Ai do negrinho que fuja dela, será
execrado e terá a reputação assassinada. Será visto sempre como um “negro de
alma branca”, como vimos nos casos de Heraldo Pereira e Joaquim Barbosa. Ora,
se lutam tanto pela conquista, quando um dos negros chega lá, é mal visto, fica
muito claro que não interessa ao movimento negro as conquistas reais. Uma vez
que todo negro esteja incluído e a sociedade se dê conta disso, nunca mais
terão como justificar suas benesses. Nunca mais terão que existir. Então é
preciso criar sempre um estado de alerta. O problema nunca deve ser sanado pelo
bem do próprio movimento. A igualdade sempre é um “devir”, um processo. Se
conquistado, não poderão mais obter privilégios e nem se imiscuir no Estado.
Logo fica evidente o porquê odeiam negros que dão certo. O que dá certo põe em
risco o seu discurso de ódio.
Não dá mais para acreditar em um
grupo que milita nesse sentido. Se por negro entendo eu e todo o povo
brasileiro, não há o que apartar. É muito mais limpo e legal observar a
história brasileira com seu legado cultural complexo, interativo e dinâmico, do
que o contrário, uma história estática, polarizada e tão suja que dá desgosto
de sentir-se povo brasileiro. A quem serve essa visão imunda? Quanto mais demoramos
a construir nossa identidade, mais demoramos a atingir a unidade. E isso é tudo
que o partido quer, para reinar soberano e manter essas mesmas antigas
oligarquias que os negros engajados juram estar combatendo.
REFERÊNCIAS:
1. Livres
como o país, Hendrik Kraay. Disponível em www.revistadehistoria.com.br
2 .Revolta
da Chibata - A História da Revolta da Chibata, causas, reivindicações dos marinheiros,
acontecimentos, líder João Cândido (Almirante Negro), punição para os
revoltosos. Disponível em http://www.suapesquisa.com/
3 . A
Grande Mentira. Agnaldo Del Nero Augusto; Livraria do Exército Nacional
4 .O
Tropical de Anita Malfatti e O Mordernismo Brasileiro. Armaldo Daraya Contier;
Eduardo Yoshikazu Nishitani;Thiago Hara Dias.
5 .Viva
o Povo Brasileiro, João Ubaldo Ribeiro, Ed. Nova Fronteira.
6 .O
Hobbit e O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien
7 .Dom
Quixote De La Mancha, Miguel de Cervantes.
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