sábado, 29 de junho de 2013

ATÉ QUANDO VALE BRIGAR?

ALGO SOBRE O CVII

Por Yuri Freire de Carvalho

A palavra heresia  significa “opção”. Dentro do contexto eclesial temos que heresia acontece sempre que adotamos uma parte da verdade em detrimento de toda a Verdade.  Em termos que antes para ser herético tem de se fazer opção de uma “meia verdade”, digamos assim. Esse é o problema de alguns pós-conciliares modernistas e em verdade é o mesmo erro daqueles que veem ruptura no CVII, pois, recusam-se a ler os documentos dentro do contexto de Igreja, dentro do contexto de continuidade de 2000 anos. Provar isso é tão fácil que se torna paradoxalmente difícil, dada a extensão de fontes que podem refurtar ambos os lados, tanto modernistas quanto tradicionalistas.
Irei começar pela citação sobre o desígnio da salvação, mais amplamente da Lumen Gentium e da Unitatis Reditendigratio. Ainda na Lumen, numero 8, vemos escrito “A única Igreja de Cristo é aquela que nosso Salvador, depois da sua Ressureição, entregou a Pedro...Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele”. Essa sua indagação já respondida indubitávelmente pela própria LG, é, pois, sobre ecumenismo, e aparecerá em outro documento conciliar de forma clara e explícita. Ainda na LG, no número 17 temos:
Assim como o Filho foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos (cfr. Jo. 20,21) dizendo: «ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinai-as a observar tudo aquilo que vos mandei. “Eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos» (Mt. 28, 19-20). A Igreja recebeu dos Apóstolos este mandato solene de Cristo, de anunciar a verdade da salvação e de a levar até aos confins da terra (cfr. Act. 1,8).
Ou seja, fica explícito que a própria LG determina que a Única Igreja é quem anuncia a Verdade. Então só ela anuncia a verdade. Mas não para por aqui, vamos para outro documento conciliar o Unitatis Reditendigratio, que no seu número 3 afirma enquanto decreto sobre o Ecumenismo:
Pois somente por meio da Igreja Católica de Cristo, “a qual é meio geral de salvação”, pode ser atingida TODA A PLENITUDE DOS MEIOS DE SALVAÇÃO.
Não tem como ser mais explicito do que isso. O CVII é os documentos que ele produziu, devemos lê-los todos, na íntegra, não tem como enxergar ruptura nisso aí. Se lermos esses trechos consoante com o que já fora afirmado em concílios anteriores veremos que é plena continuação desses. Mas continuemos. A UR, afirma que a missão é constituir na Terra um só corpo em comunhão com a Igreja e que todos devem se incorporar PLENAMENTE, isso aqueles que de alguma forma já pertencem ao Povo de Deus. E como é esse de alguma forma? Pelo batismo por exemplo. Isso é inegável. Na UR número 3:
“Nesta una e única Igreja de Deus já desde os primórdios surgiram algumas cisões (15), que o Apóstolo censura asperamente como condenáveis (16). Nos séculos posteriores, porém, originaram-se dissensões mais amplas. Comunidades não pequenas separaram-se da plena comunhão da Igreja católica, algumas vezes não sem culpa dos homens dum e doutro lado. Aqueles, porém, que agora nascem em tais comunidades e são instruídos na fé de Cristo, não podem ser acusados do pecado da separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor. Pois que crêem em Cristo e foram devidamente baptizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica. De facto, as discrepâncias que de vários modos existem entre eles e a Igreja católica - quer em questões doutrinais e às vezes também disciplinares, quer acerca da estrutura da Igreja - criam não poucos obstáculos, por vezes muito graves, à plena comunhão eclesiástica. O movimento ecuménico visa a superar estes obstáculos. No entanto, justificados no Baptismo pela fé, são incorporados a Cristo (17), e, por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e justamente são reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor (18).”
Vixe, tá vendo? Rompeu!!! Não, Não rompeu. Sabe por que? Porque essa afirmativa vem das seguintes fontes:  S. Agostinho, In Ps. 32, Enarr. II, 29: PL 36, 299, Da Profissão de Fé de Miguel Paleólogo, Concílio Florentino Sessão VI , na definição Laetentur Coeli. Nesse mesmo concílio voltaram à comunhão os cristãos Monofisistas (coptas, etíopes e armênios). Sendo assim, todos, muito anteriores ao CVII, poder-se-ia afirmar que são cismáticos e heréticos também?
Finalmente na afirmação sobre os mulçumanos etc, temos o seguinte: imagine que existem povos que ainda hoje nunca ouviram falar em Cristo e em Igreja Católica, quando essas pessoas morrerem o que acontecerá com elas? O fato de elas nunca terem tido acesso à Igreja aqui na Terra não quer dizer que ela esteja de todo fora da Igreja. Ou seja, a Igreja é um corpo visível e outro invisível no qual uma parte do corpo invisível da Igreja se faz mediante à Lei Moral e Lei Natural. O que isso quer dizer? Quer dizer Deus colocou em todos os homens, sem exceção os princípios morais que nos fazem aproximar dele através da razão. Deus em sua infinita sabedoria, deu esse recurso de salvação pois sabia que a missão de ir até os confins da terra dada à sua Igreja seria longa e demorada. Sendo assim não tardou em querer TODOS ao seu lado. Isso não quer dizer que todos serão salvos. E não sou eu quem está inventando isso, é a Igreja e o CVII reafirma isso, e se reafirma ela faz baseado na afirmação de ninguém menos que Santo Tomás em sua Suma Teológica III, questão 8, entre outros. Ou seja, o CVII reafirma isso baseado em 2000 anos de Igreja.
Agora eu vejo algo interessante. Talvez poucos tenham conhecimento, mas o IV Conc. Lateranense teve um lado pastoral. A Igreja precisava se posicionar diante de um monte de heresias que vinham surgindo, principalmente por parte dos fiéis leigos. E mais, o mundo cobrava uma postura da Igreja em relação aos fieis. E o que aconteceu, cânone 10 desse concílio:
“Não é raro que os bispos, como conseqüência de suas múltiplas ocupações, de suas
enfermidades físicas, dos ataques inimigos e de eventualidades diversas. (...)não
podem dedicar-se a proclamar a palavra de Deus, especialmente em dioceses amplas
e com população muito dispersa. Por ordem geral estabelecemos que os bispos
designem para cumprir convenientemente o ministério da santa pregação a pessoas
capacitadas e ricas em obras e palavras.”
Por que não houve ruptura nesse concílio, já que antes os fiéis leigos não poderiam ser preparados para pregação? Poxa logo esse concílio, tão tradicionalista!!! É. Ele instituiu mudanças, teve posturas pastorais.
E isso acontece, por que a Igreja distribui a mesma Verdade, imutável, em tempos diferentes e para isso deve demonstrar as mesmas verdades com recursos passíveis de mudança diferentes. Isso não é erro, isso acontece demais na Igreja, tenho milhares de exemplos de mudanças pastorais e litúrgicas que ocorreram antes do CVII mas que não alteraram o teor da Verdade.
É muito interessante perceber que os tradicionalistas repudiam o CVII porém adoram se utilizar de um recurso que foi esse mesmo concílio que permitiu ocorrer. Atraves do documento Inter Mirifica, fica liberado os meios de comunicação, radio, internet etc, como meios de evangelização. E é o que estamos fazendo aqui. Graças a quem? Ao CVII. Esse mesmo, cismático e herético.
Outra confusão que há na interpretação anti-CVII consiste nessa afirmativa: “Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos...”.
A palavra desígnio significa plano, propósito. O documento nem precisava explicitar nenhum grupo, pois os desígnios da Igreja para a salvação se estende à toda criatura viva!!! Ele apenas (já que tem caráter pastoral) inclui alguns grupos nos quais pretende se reaproximar nesse contexto, nesse tempo histórico. Isso não quer dizer que eles estão salvos. Não! Quer dizer que nesse momento o desejo de plenitude e comunhão (como já mostrado nos outros trechos) se estende para os mulçumanos e etc. Isso nada mais é do que o Espírito Santo buscando segundo a sua vontade e sua sabedoria aproximar os povos para se converterem à Igreja. Como já disse, isso aconteceu em vários concílios (Florença, Latrão). Com Miguel Paleólogo e Gregório X tentando reaproximar o oriente do ocidente. Enfim temos milhões de exemplos.
Para encerrar, deixo apenas um exemplo clássico do que um trabalho pastoral brilhante de Paulo VI foi capaz de fazer. Em 1977, o pastor adventista Bert Beach doou ao papa Paulo VI uma medalha de ouro com as seguintes citações: “RECONHECEMOS A IGREJA CATÓLICA  COMO MÃE E RAINHA DE TODAS  AS IGREJAS DO MUNDO!”. Sem mais para esse exemplo. Não há como negar a continuidade.
Se optares por ler apenas um documento, não estará lendo o CVII, mas o que achas dele. E isso o fará cair em heresia, pois heresia, como dito, é opção. A opção pela ruptura e pela descrença. Como afirma veementemente o papa Bento XVI: devemos olhar o CVII como ele realmente foi: com caráter de continuidade e que expressou ao mundo toda a tradição de 2000 anos de Igreja.

Acontece que os modernistas que são os donos dos meios de comunicação (heréticos) escolheram deturpar o CVII, e aí noticiam o CVII como ele não foi. É idêntico à seguinte analogia: Você não odeia a Igreja Católica, você odeia o que erroneamente te fizeram achar que é a Igreja Católica. Eu afirmo isso também: Voce não odeia o CVII e sim o que erroneamente criaram para você o que é o CVII. O concílio não é um documento apenas nem um parágrafo apenas, são todos os documentos e todos os parágrafos e de onde vêm essas afirmativas. E como mostrei TODAS, somente nesses pequenos pontos, vem muito antes do próprio concílio.

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