Por Yuri Freire de Cavalho
Para refletir sobre
programas sociais, seguido quase totalmente em seus modelos no Brasil, e aqui se
destaca o “Bolsa Família”, é necessário fazer uma análise estrutural e original
de três coisas principalmente: o papel do Estado, o Estado de bem estar social
(nesse sentido discorrer sobre o Keynesianismo) e a reflexão sobre a justiça.
O Estado de “bem estar
social” (wellfare state) recorrendo à
teoria keynesiana – pelo simples motivo de ter sido colocada sistematicamente
em prática na quase totalidade dos países ocidentais – em linhas gerais, deve
ser entendido como um sistema no qual, bens, acessos e capitais devem ser
distribuídos amplamente, seguindo-se um direito mínimo. Nesse sistema cabe ao
Estado garantir (e até mesmo obrigar) toda a população a se servir no “banquete”
da produção de todos da sociedade. Todos devem ter um dinheiro mínimo mensal,
educação, moradia e saúde, tudo isso garantido pelo Estado.
Nesse contexto, seria o
Estado, além de fiscal, mantenedor das pessoas. Caberia ao Estado garantir a
realização, promoção e fiscalização de bens fundamentais. Diante dos seguros
governamentais, teria o cidadão condições mínimas de buscar o próprio “lugar ao
sol”. Seria algo como permitir ao homem da polis seguir a vida, sem se preocupar
com o coletivo em termos gerais (apenas cuidar do bem público), já que essa
responsabilidade caberia ao governo.1
A relevante conquista
social, no Keynesianismo, é conseguida à duras penas. No Keynesianismo em tempos
de crise, ao contrário do que manda a prudência, o Estado deve aumentar os
gastos, injetando dinheiro na sociedade (aumentando o salário mínimo, por
exemplo), fazendo aumentar o poder de compra da população que se sentiria
estimulada a fazer negócios de risco (comprar no crediário seria um deles), aquecendo
a economia e tirando o país da crise. Em resumo: na crise, deve o Estado ser
deficitário (gastar mais – investir - e arrecadar menos), ao passo que na
bonança o Estado deveria refrear o consumo e estimular o resguardo do dinheiro,
afim de não ter a desvalorização dos produtos e da moeda.2,3
Aparentemente, tudo
estaria sobre controle, não fosse o próprio Estado. Para injetar esse dinheiro
na economia, o governo dispõe de algumas fraudes. Primeiro imprime dinheiro-papel à
revelia, em lastro inexistente (ao contrário do lastro real, material e
palpável), de modo que em um prazo de tempo, a moeda se desvaloriza a tal ponto
de reduzir o poder de compra e venda estagnando a economia. A outra imprudência
estatal consiste em adquirir dívidas, cujo pagamento será garantido mediante
arrecadação, em tempos de bonança. Acontece que diante da desvalorização da
moeda, devido à expansão monetária (leia-se aumento da inflação), o dinheiro
passa a valer menos e os devedores passam a não honrar as suas dívidas, porque
simplesmente gastaram tudo e não tem mais dinheiro para saldar os credores.
Então os juros aumentam e a dívida cresce.4
Outro ponto em questão,
e o mais fundamental deles, haja vista a dificuldade de se compreender
conceitos de economia, é que, durante o esfriamento da economia, governante
nenhum realiza as tais medidas de austeridade. Medidas como essa na prática,
seriam reduzir as benesses do Estado, diminuir obras e aumentar arrecadação. Em
outras palavras, reduzir o tal do “bem estar social”. Nenhum político gosta de
tomar tais medida, muito menos um governo populista e cujo projeto é se manter
no poder indefinidamente. Medidas como essa significam reduzir a popularidade e
arriscar o poder, que vale mais do que possuir o dinheiro em si. Muita coisa
para ser colocada na mesa por um governo como o PT, por exemplo.
Estes conceitos
evidenciam, per si, porque salários mínimos só aumentam e porque existe uma
tendência de ocorrer à mesma práxis em tudo, até no Bolsa Família como bem se vê no texto (link) a seguir:
Exemplos como os
supracitados, diferente de se revelar uma análise apriorística, comprovam o
caráter deletério no qual se assenta o wellfare
state - com tudo que pode estar contido nele, inclusive, o “Bolsa Família”. A proposta de Keynes fundamenta um
Estado gastador (e, portanto dilapidador do patrimônio público e privado) e
operador fraudes (imprimir dinheiro do nada e prometer dinheiro que não
existe). Outrossim, para haver Keynesianismo, há de ser necessário um Estado
cada vez mais dominante, presente e poderoso. Em histeria, um marxista poderia,
no alto da paralaxe cognitiva, dizer que é a corrupção e má compreensão das
teorias que dissociam o pensamento da realidade. Novamente, sem apriorismos, um
Estado nessas proporções só demonstrou desgraças e aplaudiu Hitler, Mussolini,
Stálin e tantos outros que carregaram nas costas, juntos, mais de 100 milhões
de mortes, em sua maioria pessoas comuns e inocentes.5
Um erro desse tamanho
encontra respaldo também, na frouxidão com que o povo desatinou na entrega
unilateral do contrato social. Em última análise, segundo Hobbes, o Estado é um
esforço da comunidade (enquanto pessoas vivendo juntas), para fazer valer os
contratos e a sobrevivência de todos. Ou seja, sendo o homem injusto,
individualista e animalesco, teria o homem, no Estado, a forma de refrear os
seus instintos, afim de não haver aniquilação mútua. Sendo assim, pode-se
concluir que o Estado seria um baluarte das virtudes e um refreio aos instintos
ou vícios.6
Nessa perspectiva de
Hobbes, aquele incorporaria essa face estatal seria o governante (no caso o
monarca), fazendo do Estado um gigante, controlador, o Leviatã.6
Um grande equívoco das
sociedades atuais consiste, em última análise, em não compreender os valores e
forças que atuam antes do Estado. Com isso advoga-se que as relações humanas,
antes de serem mantidas pelo Leviatã, são garantidas por uma ordem prévia, valores
éticos primeiros, como as Leis Morais. Ao sentir-se injustiçado, o vilipendiado
grita pela falta de justiça, donde entende ele e todos, haver um clamor e um
apelo lógico automático, com qual não precisa explicar nada.
Logo se entende que
antecede ao direito o conceito do que é justo, e no sentido maior, o justo
seria aquilo que é devido à cada um. Dar a cada um o que lhe cabe, não precisa de
nada além da emanação do juízo mesmo. Basta dizer isso, e toda a comunidade
entende-o como uma razão suficiente e auto-explicativa para ser obedecido (ou
no mínimo defendido).6,7
Ratzinger arregimentou
e amplificou os conceitos Aristotélicos (superou-o ainda falando de caridade),
relembrando a toda a sociedade, mediante o brocardo “Ubi societas, ibi jus”, que à todos os governos, antecede o valor
de justiça e o próprio direito. Mais ainda, que a organização existe antes das
mãos do Estado.8
Ampliando Ratzinger,
entende-se que existe sociedade sem Estado, antes com ordenamento
moral/jurídico, porém, jamais, Estado sem sociedade. Afinal, o próprio Estado é
o apelo dos povos em querer cumprirem a Lei Moral. Mais ainda, conclui-se que esse
mesmo sistema alimenta virtudes e condena vícios.
Das conclusões da Ética
a Nicômaco, o que sobraria para o Estado? Ora, ao Estado, cabe a manutenção das
regras e das leis naturais, das trocas justas e da fiscalização das regras. Em
uma sociedade, onde as trocas ocorrem mediante a justiça, ao Estado sobra
apenas a manutenção do corpo jurídico, que em si, fundamenta toda a sociedade.
Diante disto, mais duas
críticas se fazem ao “Bolsa Família”: a primeira é que políticas de Estado em
si, nada possuem de virtude nem de justiça (ou pelo menos não deveriam
possuir). Quando uma sociedade delega ao Estado a aplicação do que deveria ser
atribuição da justiça – e por isso mesmo do societas,
demonstra, em ultima análise, o esfacelamento tanto das virtudes (que permitem
a aplicação das justiças tanto comutativa quanto distributiva), quanto do corpo
jurídico de um país. Em suma, não existe justiça porque existe Estado, do
contrário este existe na estrita dependência e apelo daquele.
No caso do Brasil,
demonstra o quanto o partido, que domina todas as esferas do governo, controla
toda a sociedade. Não é estranho então, que o próprio Estado fique a mercê
daquele partido que detenha todo ele nas mãos (no caso o PT), a ponto de não
ser possível à última instância da justiça, punir acusados de corrupção, como o
caso do Mensalão no STF.
É lógico! Quando se entrega
ao Estado todo o controle, corre-se esse risco. Aquele grupo que se imiscui nas
instituições governamentais controla tudo e a todos, inclusive o corpo jurídico.
E não se pode negar que não fora previsto. As experiências ao longo da história
foram categóricas em confirmar o quanto os aproveitadores do partido vermelho,
se valeram do controle estatal para exercerem domínio sobre o povo. Afinal nada
mais fascista do que “Tudo pelo Estado...nada fora do Estado”9
Um Estado não pode
garantir a justiça porque simplesmente a justiça não é do escopo do dele, mas
antes da ordem social. Quando um Estado se apropria do direito de dizer como
deve ser corretiva e comutativa as trocas e contratos, entrega-se na mão do
Leviatã (e por isso mesmo às paixões e desmandos do governo de situação) aquilo
que é justo e medida necessária. E no lugar de justiça teremos programa de
governo, no lugar de virtudes, cartilhas e propagandas.
A outra crítica ao “Bolsa
Família” se faz no âmbito mesmo da justiça. Ora, ou o programa é capaz de
alterar a realidade mesma, e assim empregar a correção, ou não é.
Se positivo, deve-se
presumir antes uma comutação7, um meio de contrato, donde uma das
partes saiu lesada, e, com mesmo apelo que se faz às leis naturais, bastaria
evocar a justiça para reparar os danos. Acontece que no Brasil, não se sabe
aonde (no tempo) e com quem exatamente as trocas foram injustas e, passados 500
anos de história, nem mesmo se tem a dimensão de proporções de valores a serem
corrigidos. Os reparos são totalmente arbitrários e infindáveis. Na justiça
corretiva, aplicada as proporções, a injustiça está corrigida. Mutatis mutandis, nos programas
petistas, ninguém definiu o quanto se deve corrigir e, portanto, quando parar
os programas. Como demonstrado acima, austeridade não é com o governo. Sendo
assim, se aplicados eternamente, os programas sociais são distorções, confiscos
e até mesmo roubo por parte de um grupo exatamente porque ultrapassa os limites
das proporções corretivas.
Em caso negativo, se o
programa não repara nada, não atende à justiça e não teria outro caráter senão
promover o próprio governo e os governantes. O lulo-petismo e o caráter totalitário
do Foro de São Paulo não deixam dúvidas: tudo na verdade faz parte de um
programa de governo para implementar um regime ad eternum na América Latina.10
Fraude, paralaxe
cognitiva, projeto de governo, tutti
quanti sincronizado, reafirmam há alguns milênios, o quanto o Estado deve
possuir limites e ter seus representantes trocados “...tais como fralda, pela
mesma razão”11 e necessariamente como se deve denunciar a opulência
estatal e suas gastanças do dinheiro público, quebrantando de uma vez as
falácias de Keynes e seus frutos podres, dentre eles, as bases do “Bolsa
Família”.
REFERÊNCIAS:
- KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General theory of employment, interest and money). Tradutor: CRUZ, Mário Ribeiro da. São Paulo: Editora Atlas, 1992. ISBN 9788522414574;
- Murray N. Rothbard. O Keynesianismo é uma constante. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2009. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=183
- Bagus, Philipp. Os erros de Keynes. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2013. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1617;
- Roque, Leandro. Quando Marx Refutou Keynes e os atuais Marxistas. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2013. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1608
- O livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão. Obra coletiva. Editado por Stéphane Courtois, 1997;
- Hobbes, Thomas. O Leviatã
- Aristóteles. Ética à Nicômaco
- Ratzinger, Joseph. Caritas in Veritatis, 2010, Vaticano
- Benito Mussolinni.
- Declaración de São Paulo 1990
- Frase atribuída a Eça de Queiroz
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