quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Keynesianismo, Bolsa Família e papel do Estado

DESNUDANDO  O BEM ESTAR SOCIAL
Por Yuri Freire de Cavalho


Para refletir sobre programas sociais, seguido quase totalmente em seus modelos no Brasil, e aqui se destaca o “Bolsa Família”, é necessário fazer uma análise estrutural e original de três coisas principalmente: o papel do Estado, o Estado de bem estar social (nesse sentido discorrer sobre o Keynesianismo) e a reflexão sobre a justiça.

O Estado de “bem estar social” (wellfare state) recorrendo à teoria keynesiana – pelo simples motivo de ter sido colocada sistematicamente em prática na quase totalidade dos países ocidentais – em linhas gerais, deve ser entendido como um sistema no qual, bens, acessos e capitais devem ser distribuídos amplamente, seguindo-se um direito mínimo. Nesse sistema cabe ao Estado garantir (e até mesmo obrigar) toda a população a se servir no “banquete” da produção de todos da sociedade. Todos devem ter um dinheiro mínimo mensal, educação, moradia e saúde, tudo isso garantido pelo Estado.

Nesse contexto, seria o Estado, além de fiscal, mantenedor das pessoas. Caberia ao Estado garantir a realização, promoção e fiscalização de bens fundamentais. Diante dos seguros governamentais, teria o cidadão condições mínimas de buscar o próprio “lugar ao sol”. Seria algo como permitir ao homem da polis seguir a vida, sem se preocupar com o coletivo em termos gerais (apenas cuidar do bem público), já que essa responsabilidade caberia ao governo.1

A relevante conquista social, no Keynesianismo, é conseguida à duras penas. No Keynesianismo em tempos de crise, ao contrário do que manda a prudência, o Estado deve aumentar os gastos, injetando dinheiro na sociedade (aumentando o salário mínimo, por exemplo), fazendo aumentar o poder de compra da população que se sentiria estimulada a fazer negócios de risco (comprar no crediário seria um deles), aquecendo a economia e tirando o país da crise. Em resumo: na crise, deve o Estado ser deficitário (gastar mais – investir - e arrecadar menos), ao passo que na bonança o Estado deveria refrear o consumo e estimular o resguardo do dinheiro, afim de não ter a desvalorização dos produtos e da moeda.2,3

Aparentemente, tudo estaria sobre controle, não fosse o próprio Estado. Para injetar esse dinheiro na economia, o governo dispõe de algumas fraudes. Primeiro imprime dinheiro-papel à revelia, em lastro inexistente (ao contrário do lastro real, material e palpável), de modo que em um prazo de tempo, a moeda se desvaloriza a tal ponto de reduzir o poder de compra e venda estagnando a economia. A outra imprudência estatal consiste em adquirir dívidas, cujo pagamento será garantido mediante arrecadação, em tempos de bonança. Acontece que diante da desvalorização da moeda, devido à expansão monetária (leia-se aumento da inflação), o dinheiro passa a valer menos e os devedores passam a não honrar as suas dívidas, porque simplesmente gastaram tudo e não tem mais dinheiro para saldar os credores. Então os juros aumentam e a dívida cresce.4

Outro ponto em questão, e o mais fundamental deles, haja vista a dificuldade de se compreender conceitos de economia, é que, durante o esfriamento da economia, governante nenhum realiza as tais medidas de austeridade. Medidas como essa na prática, seriam reduzir as benesses do Estado, diminuir obras e aumentar arrecadação. Em outras palavras, reduzir o tal do “bem estar social”. Nenhum político gosta de tomar tais medida, muito menos um governo populista e cujo projeto é se manter no poder indefinidamente. Medidas como essa significam reduzir a popularidade e arriscar o poder, que vale mais do que possuir o dinheiro em si. Muita coisa para ser colocada na mesa por um governo como o PT, por exemplo.

Estes conceitos evidenciam, per si, porque salários mínimos só aumentam e porque existe uma tendência de ocorrer à mesma práxis em tudo, até no Bolsa Família como bem se vê no texto (link) a seguir:


Exemplos como os supracitados, diferente de se revelar uma análise apriorística, comprovam o caráter deletério no qual se assenta o wellfare state - com tudo que pode estar contido nele, inclusive, o “Bolsa Família”. A proposta de Keynes fundamenta um Estado gastador (e, portanto dilapidador do patrimônio público e privado) e operador fraudes (imprimir dinheiro do nada e prometer dinheiro que não existe). Outrossim, para haver Keynesianismo, há de ser necessário um Estado cada vez mais dominante, presente e poderoso. Em histeria, um marxista poderia, no alto da paralaxe cognitiva, dizer que é a corrupção e má compreensão das teorias que dissociam o pensamento da realidade. Novamente, sem apriorismos, um Estado nessas proporções só demonstrou desgraças e aplaudiu Hitler, Mussolini, Stálin e tantos outros que carregaram nas costas, juntos, mais de 100 milhões de mortes, em sua maioria pessoas comuns e inocentes.5

Um erro desse tamanho encontra respaldo também, na frouxidão com que o povo desatinou na entrega unilateral do contrato social. Em última análise, segundo Hobbes, o Estado é um esforço da comunidade (enquanto pessoas vivendo juntas), para fazer valer os contratos e a sobrevivência de todos. Ou seja, sendo o homem injusto, individualista e animalesco, teria o homem, no Estado, a forma de refrear os seus instintos, afim de não haver aniquilação mútua. Sendo assim, pode-se concluir que o Estado seria um baluarte das virtudes e um refreio aos instintos ou vícios.6

Nessa perspectiva de Hobbes, aquele incorporaria essa face estatal seria o governante (no caso o monarca), fazendo do Estado um gigante, controlador, o Leviatã.6

Um grande equívoco das sociedades atuais consiste, em última análise, em não compreender os valores e forças que atuam antes do Estado. Com isso advoga-se que as relações humanas, antes de serem mantidas pelo Leviatã, são garantidas por uma ordem prévia, valores éticos primeiros, como as Leis Morais. Ao sentir-se injustiçado, o vilipendiado grita pela falta de justiça, donde entende ele e todos, haver um clamor e um apelo lógico automático, com qual não precisa explicar nada.
Logo se entende que antecede ao direito o conceito do que é justo, e no sentido maior, o justo seria aquilo que é devido à cada um. Dar a cada um o que lhe cabe, não precisa de nada além da emanação do juízo mesmo. Basta dizer isso, e toda a comunidade entende-o como uma razão suficiente e auto-explicativa para ser obedecido (ou no mínimo defendido).6,7

Ratzinger arregimentou e amplificou os conceitos Aristotélicos (superou-o ainda falando de caridade), relembrando a toda a sociedade, mediante o brocardo “Ubi societas, ibi jus”, que à todos os governos, antecede o valor de justiça e o próprio direito. Mais ainda, que a organização existe antes das mãos do Estado.8

Ampliando Ratzinger, entende-se que existe sociedade sem Estado, antes com ordenamento moral/jurídico, porém, jamais, Estado sem sociedade. Afinal, o próprio Estado é o apelo dos povos em querer cumprirem a Lei Moral. Mais ainda, conclui-se que esse mesmo sistema alimenta virtudes e condena vícios.

Das conclusões da Ética a Nicômaco, o que sobraria para o Estado? Ora, ao Estado, cabe a manutenção das regras e das leis naturais, das trocas justas e da fiscalização das regras. Em uma sociedade, onde as trocas ocorrem mediante a justiça, ao Estado sobra apenas a manutenção do corpo jurídico, que em si, fundamenta toda a sociedade.

Diante disto, mais duas críticas se fazem ao “Bolsa Família”: a primeira é que políticas de Estado em si, nada possuem de virtude nem de justiça (ou pelo menos não deveriam possuir). Quando uma sociedade delega ao Estado a aplicação do que deveria ser atribuição da justiça – e por isso mesmo do societas, demonstra, em ultima análise, o esfacelamento tanto das virtudes (que permitem a aplicação das justiças tanto comutativa quanto distributiva), quanto do corpo jurídico de um país. Em suma, não existe justiça porque existe Estado, do contrário este existe na estrita dependência e apelo daquele.

No caso do Brasil, demonstra o quanto o partido, que domina todas as esferas do governo, controla toda a sociedade. Não é estranho então, que o próprio Estado fique a mercê daquele partido que detenha todo ele nas mãos (no caso o PT), a ponto de não ser possível à última instância da justiça, punir acusados de corrupção, como o caso do Mensalão no STF.

É lógico! Quando se entrega ao Estado todo o controle, corre-se esse risco. Aquele grupo que se imiscui nas instituições governamentais controla tudo e a todos, inclusive o corpo jurídico. E não se pode negar que não fora previsto. As experiências ao longo da história foram categóricas em confirmar o quanto os aproveitadores do partido vermelho, se valeram do controle estatal para exercerem domínio sobre o povo. Afinal nada mais fascista do que “Tudo pelo Estado...nada fora do Estado”9

Um Estado não pode garantir a justiça porque simplesmente a justiça não é do escopo do dele, mas antes da ordem social. Quando um Estado se apropria do direito de dizer como deve ser corretiva e comutativa as trocas e contratos, entrega-se na mão do Leviatã (e por isso mesmo às paixões e desmandos do governo de situação) aquilo que é justo e medida necessária. E no lugar de justiça teremos programa de governo, no lugar de virtudes, cartilhas e propagandas.

A outra crítica ao “Bolsa Família” se faz no âmbito mesmo da justiça. Ora, ou o programa é capaz de alterar a realidade mesma, e assim empregar a correção, ou não é.

Se positivo, deve-se presumir antes uma comutação7, um meio de contrato, donde uma das partes saiu lesada, e, com mesmo apelo que se faz às leis naturais, bastaria evocar a justiça para reparar os danos. Acontece que no Brasil, não se sabe aonde (no tempo) e com quem exatamente as trocas foram injustas e, passados 500 anos de história, nem mesmo se tem a dimensão de proporções de valores a serem corrigidos. Os reparos são totalmente arbitrários e infindáveis. Na justiça corretiva, aplicada as proporções, a injustiça está corrigida. Mutatis mutandis, nos programas petistas, ninguém definiu o quanto se deve corrigir e, portanto, quando parar os programas. Como demonstrado acima, austeridade não é com o governo. Sendo assim, se aplicados eternamente, os programas sociais são distorções, confiscos e até mesmo roubo por parte de um grupo exatamente porque ultrapassa os limites das proporções corretivas.

Em caso negativo, se o programa não repara nada, não atende à justiça e não teria outro caráter senão promover o próprio governo e os governantes. O lulo-petismo e o caráter totalitário do Foro de São Paulo não deixam dúvidas: tudo na verdade faz parte de um programa de governo para implementar um regime ad eternum na América Latina.10

Fraude, paralaxe cognitiva, projeto de governo, tutti quanti sincronizado, reafirmam há alguns milênios, o quanto o Estado deve possuir limites e ter seus representantes trocados “...tais como fralda, pela mesma razão”11 e necessariamente como se deve denunciar a opulência estatal e suas gastanças do dinheiro público, quebrantando de uma vez as falácias de Keynes e seus frutos podres, dentre eles, as bases do “Bolsa Família”.

REFERÊNCIAS:

  1. KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General theory of employment, interest and money). Tradutor: CRUZ, Mário Ribeiro da. São Paulo: Editora Atlas, 1992. ISBN 9788522414574;
  2. Murray N. Rothbard. O Keynesianismo é uma constante. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2009. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=183
  3. Bagus, Philipp. Os erros de Keynes. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2013. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1617;
  4. Roque, Leandro. Quando Marx Refutou Keynes e os atuais Marxistas. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2013. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1608
  5. O livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão. Obra coletiva. Editado por Stéphane Courtois, 1997;
  6. Hobbes, Thomas. O Leviatã
  7. Aristóteles. Ética à Nicômaco
  8. Ratzinger, Joseph. Caritas in Veritatis, 2010, Vaticano
  9. Benito Mussolinni.
  10. Declaración de São Paulo 1990
  11. Frase atribuída a Eça de Queiroz

Nenhum comentário:

Postar um comentário